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O Arsénio no Ambiente

 

    Arsénio no arroz

 

   O arroz é um dos cereais mais cultivados e consumidos no mundo, sendo a Ásia responsável por 80% da produção mundial, com destaque para países como a China, Índia e Indonésia. No entanto, este cereal representa também uma das principais fontes de exposição continuada ao arsénio (As), cuja toxicidade e biodisponibilidade estão fortemente dependentes da forma química em que o metalóide se apresenta. Além disso, comparativamente a outros cereais, o arroz contém maiores quantidades deste elemento [20]

   A concentração de As no grão de arroz cru varia de região para região geográfica. Sabe-se que o teor de As no arroz está relacionado com a sua origem, variedade e processo de cultivo (por exemplo, depende da qualidade da água usada na irrigação), por isso é expectável que arroz com diferentes origens tenha concentrações de As discrepantes [21].

   As populações dos países do sul e sudeste asiático são as mais afetadas por este problema. O cultivo de arroz recorrendo à irrigação com água subterrânea contaminada com As conduz a uma elevada deposição deste composto na superfície do solo, o que representa uma grave ameaça para a sustentabilidade da agricultura nestas regiões e claro, para a saúde pública [21].

 

   Num estudo, foi avaliado o risco de desenvolvimento de cancro face à exposição a arroz contaminado com arsénio no Bangladesh, China, Índia, Itália e EUA, multiplicando a ingestão diária de As inorgânico no arroz e um fator de risco (3,67 mg/ kg.dia) proposto pela United States Environmental Protection Agency. Assim, considerando um consumo fixo de 100 g de arroz por dia, num homem pesando 60 kg, esse risco traduz-se nas seguintes taxas (valores médios): Bangladesh (22 em 10.000 pessoas); China (15 em 10.000 pessoas); Índia (7 em 10.000 pessoas); Itália e EUA (~ 1 por 10.000 pessoas) [21].

   Estima-se, tendo em conta esta análise, que o risco de vir a ter cancro é cerca de 200, 150 e 70 vezes maior no Bangladesh, China e Índia, respetivamente, do que o previsto pela OMS (1 em 100.000 pessoas) [21].

 

   Outra preocupação é o aumento da concentração de arsénio total e inorgânico no arroz cozido, o que se deve principalmente à utilização de água contaminada no processo de cozedura [21].

  Deve dar-se especial atenção aos produtos alimentares feitos à base de arroz e derivados destinados à alimentação infantil, e também à origem dos mesmos [22].

 

  

       Manter o arsénio fora do arroz…

 

    Investigadores descobriram um mecanismo natural na planta do arroz, mediado por um transportador proteico, que restringe a transferência de arsénio do solo para o grão de arroz sequestrando-o em vacúolos.

     Este conhecimento poderá ter duas aplicações principais: "melhorar" o arroz através da sobreexpressão desse transportador ou identificar e promover a produção de variedades de arroz em que esse transportador esteja particularmente ativo [23].

 

 

           

         Em Portugal...

       Segundo dados de 2012, Portugal é o maior consumidor de arroz da Europa. Com o intuito de avaliar a sua segurança quanto à presença de arsénio, foi realizado, em 2013, um estudo pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, onde se verificou que os níveis de arsénio total se encontravam abaixo dos limites máximos definidos pela legislação para o arsénio em alimentos. Os valores encontrados variaram entre 114 µg/Kg e 285 µg/Kg (arsénio total). Estes resultados são idênticos aos observados noutros países da União Europeia e fora do espaço europeu. Notar que a OMS propôs que se estabelecesse o teor de As (total ou inorgânico) em 300 μg kg-1 (na China esse valor é de 150 μg kg-1) e que não existe nenhum limite definido, em termos de legislação, a nível europeu [20].

      Quanto às espécies químicas predominantes, o ácido dimetilarsénico é o principal contaminante, seguido do arsenito [20].

 

    Arsénio na água - Técnica de remoção de As da água para consumo

    O arsénio inorgânico está naturalmente presente em níveis elevados em águas subterrâneas de uma série de países, incluindo Argentina, Bangladesh, Chile, China, Índia, México e os Estados Unidos da América.  Devido à potencial ação cancerígena de algumas espécies de arsénio, em 1993 a OMS recomendou que, nas águas destinadas ao consumo humano devem estar presentes no máximo numa concentração de 0,01 mg/L (valor cinco vezes inferior ao valor recomendado para a água potável) [20].

   Em algumas regiões mais afetadas e quando este valor é excedido ainda que sazonalmente, torna-se necessário adotar medidas para a obtenção de uma água segura para consumo que sejam eficientes, sustentáveis e pouco dispendiosas [20].

 

    Em Portugal é importante atender às populações do Ribatejo expostas, há vários anos, à ingestão continuada de águas com concentrações de arsénio entre 10 e 50 mg/L, no sentido de avaliar os reais impactos dessa exposição em termos de saúde pública [20].

       O tratamento de águas para consumo humano poluídas com arsénio é essencial como medida política preventiva e de erradicação do risco de envenenamento crónico, sendo necessário selecionar as técnicas mais adequadas e sustentáveis de redução dos níveis de arsénio para valores inferiores aos valores paramétricos mais restritivos [20].

    As tecnologias convencionais de remoção do As baseiam-se num conjunto restrito de processos físico-químicos básicos, como reações de oxidação-redução, coagulação, precipitação, adsorção, permuta iónica e filtração por membranas [20].

   Algumas das tecnologias emergentes mais promissoras utilizam a radiação UV, radiação solar e/ou processos biológicos (por ação de bactérias ou plantas) para oxidação do arsenito [20].

 

    De forma a reduzir de forma significativa os custos de exploração (particularmente importantes nos países menos desenvolvidos) e fazer um aproveitamento racional das energias renováveis, será vantajoso conjugar os processos convencionais com técnicas de oxidação solar, por exemplo [20].

Quanto arsénio está no seu arroz?

Saiba mais...

Tabela IV: Fontes de contaminação por arsénio das águas superficiais e subterrâneas em Portugal e no mundo - adaptado [20].

Referências

[20] Cunha, Pedro D. Rodrigues, and António AL Duarte. "Remoção de arsénio em águas para consumo humano." (2008).

[21] Rahman, M. Azizur, and Hiroshi Hasegawa. "High levels of inorganic arsenic in rice in areas where arsenic-contaminated water is used for irrigation and cooking." Science of the Total Environment 409.22 (2011): 4645-4655.

[22] Is rice safe? Arsenic claims need not really worry us. Disponível em: http://www.independent.ie/life/health-wellbeing/healthy-eating/is-rice-safe-arsenic-claims-need-not-really-worry-us-30954650.html

[23] Song, Won-Yong, et al. "A rice ABC transporter, OsABCC1, reduces arsenic accumulation in the grain." Proceedings of the National Academy of Sciences 111.44 (2014): 15699-15704.

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